18.07.2008
Não é uma questão de achar que salvaremos o mundo.
Mas, no mínimo, queremos conhecê-lo de verdade...
Saber onde estamos, o que nos cerca... quem são nossos vizinhos?
Viver na íntegra, ter noção do mundo, é sempre saudável. Pelo menos para quem se preocupa em ser útil à sociedade e não está aqui apenas desejando ser servido por ela.
É o que há em comum entre os voluntários: utilidade. Vindos de todos os lados, diferentes realidades, personalidades, educação. Cada um tem sua visão própria a respeito da vida. Valores, princípios, crenças. O que os une é o desejo de fazer algo, de sair da toca, da sua zona de conforto. A escolha de tomar uma atitude. A coragem de olhar de perto a condição humana que atingimos.
Iniciantes e veteranos na distribuição formaram o maior grupo desde o inicio do programa: 13!
Na sexta-feira, 18 de julho, fizemos algo diferente, que não estava nos planos...
Era só o início do trabalho. Metade do grupo: Tarik, as novas parceiras Day, Dessa e Karen, Astor e Márcio.
A coleta na Ceasa foi rica e tínhamos muitos ingredientes para preparar.
Lavar, limpar......picar......cortar...
Panelas cheias! O que seria sopa, se transformou num caldo de moranga, legumes e vegetais, do mais alto valor nutritivo, que foi distribuido para todos os viventes!
...de todas as espécies! Esta é a Cocota, há 13 anos uma fiel companhia para nosso amigo artista.
... de todas gerações!
Já havíamos circulado pelas ruas do centro e a hora se adiantava. Com o frio, estava difícil encontrar muito moradores pelas ruas e calçadas. Ainda tínhamos bastante sopa. Paramos em frente ao terreno que deve sediar o novo templo Hare Krishna de Porto Alegre. Mais ao lado uma pequena movimentação num bar com música ao vivo. Algumas pessoas da festa vieram buscar sua porção de sopa. Daqui a pouco escutamos o cantor do bar: "... a sopa Hare Krishna, abençoada... Hare Krishna!!!" Fomos saudados com entusiasmo e simpatia por todos!
Mas a sopa não acabava nunca...
Decidimos ir até a vila Chocolatão, a poucas quadras dali. Era bastante tarde, os moradores já haviam se recolhido. Alguns vieram com suas panelas até o carro estacionado na entrada da vila. Algumas crianças, rapazes... mas a sopa não terminava. Decidimos, de panelas em punho, acompanhados por um guia, entrar na vila. Seguimos pelas estreitas ruelas rodeadas de casebres. Iluminação só no interior das casas. Chegamos ao improvisado centro comunitário da vila. Num galpão o baile corria solto, em frente uma pequena praça com algumas crianças brincando ainda, a sede da associação de moradores, um centro cultural para atividades de teatro e música, um projeto de usina de reciclagem.
Nossa chegada causou alguma agitação entre os moradores. Uns curiosos, outros receiosos. "Quem são essas pessoas? Que estão fazendo?" Logo o senhor Luis se apresentou. O presidente da associação, surpreso com nossa presença e visita de última hora, nos falou da situação da vila e compartilhou alguns planos. Que viemos descobrir incomum com os nossos!
Eles estão prestes a serem transferidos para outra região, pois o local que ocupam é irregular. A preocupação é sair dali para uma situação melhor, por isso estão querendo investir na educação e geração de renda. Não querem mais viver do lixo da forma como fazem hoje, mas desejam usar a experiência que adquiriram com este trabalho num projeto viável que traga mais qualidade de vida para as gerações que estão crescendo ali. A unidade de reciclagem é a porta para um futuro digno e auto-suficiente.
Descobrimos que podemos ajudar na educação. Quando falamos de nosso trabalho paralelo de conscientização espiritual, do mantra-yoga, da cultura védica, o senhor Luis ficou entusiasmado. Todas as quintas-feiras eles se reúnem na associação de moradores com parceiros e voluntários que estão engajados nesse processo de dignificação e nós somos os novos convidados.
Com certeza estamos prestes a aprender muito sobre o novo mundo que acabara de descortinar diante de nós. Um mundo de verdade, feito de carne, osso, papelão e almas.